Judas
Iscariotes
Um estudo da traição na redenção
Eventualmente colocam-se à discussão os sentimentos que
levaram Judas Iscariotes ao ato da traição. Trair uma imagem de Jesus que ele
idealizava no íntimo seria uma das várias hipóteses, mas divaga muito sobre o possível
estado emocional de Judas. Qual imagem seria? Qual motivação?
Sentimento de frustração pelo fato de Jesus não ter sido o
guerreiro davidico libertador que ele
porventura esperava substanciaria a premissa da imagem corrompida, sobretudo porque
alguns estudos sugerem que Judas simpatizava ou estaria envolvido com a seita
dos Zelotes, conhecidos ativistas combativos contra o domínio romano.
Outra possibilidade envolveria algum sentimento de avareza.
Judas era o tesoureiro do grupo e já houvera manifestado seu desagrado com o
evento descrito em João 12, de Maria ter usado nos pés de Jesus uma libra de bálsamo
de nardo puro, avaliado em 300 denários . Justificou que poderia ter sido
vendido e distribuído aos pobres. O evangelista João, no entanto, comenta o
fato dizendo que a verdadeira intenção de Judas era ter este dinheiro
disponível na bolsa para eventualmente usa-lo para si e chama-o de ladrão.
No conjunto dos evangelhos os sentimentos envolvidos no ato
da traição não ficaram bem esclarecidos. Contudo, há simbolismos nas ações, nos
personagens, elementos e nos números encontrados nos textos de referência.
Simbolismos que mostram a profunda expressão da dimensão espiritual do ato.
Mateus 26:15 relata que o preço da traição de Judas foi 30
moedas de prata. Em termos financeiros da época equivale ao preço de um escravo
(Êxodo 21:32).
Se o boi chifrar um escravo ou uma
escrava, dar-se-ão trinta siclos de prata ao senhor destes, e o boi será
apedrejado.
Em termos proféticos seria o preço que o ministério de Jesus
seria avaliado pelos sacerdotes, isto é, irrisório e irrelevante, como
pronunciado pelo profeta Zacarias (Zc 11:12-13).
12 Eu
lhes disse: se vos parece bem, dai-me o meu salário; e, se não, deixai-o.
Pesaram, pois, por meu salário trinta moedas de prata.
13 Então, o SENHOR me disse:
Arroja isso ao oleiro, esse magnífico preço em que fui avaliado por eles. Tomei
as trinta moedas de prata e as arrojei ao oleiro, na Casa do SENHOR.
Dentro desta dimensão espiritual, olhando mais profundamente o
Velho Testamento, o preço da traição seria o equivalente ao valor da vinha de
Nabote (1Reis 21). Mas o que a história da vinha de Nabote teria em comum com a
figura de Jesus e a traição de Judas?
Na história descrita em 1Reis 21, vemos que o Rei Acabe tinha
inveja de Nabote porque ele tinha uma vinha. O Rei tinha tudo, mas a vinha de
Nabote era precisamente o algo mais que ele desejava ter. Acabe olhava a vinha
da janela do seu palácio e cobiçava a área para fazer uma horta.
Acabe, então, faz três ofertas sucessivas a Nabote: Dê-me a tua vinha; vamos fazer uma troca; vende-me por qualquer preço. O orgulho de poder do Rei Acabe não tolerava
olhar a vinha que desejava sem poder tê-la porque Nabote não queria vende-la
por ser herança familiar. As motivações no emocional de Acabe foram,
certamente, a cobiça, inveja e orgulho.
Jezabel, a mulher de Acabe, tramou falsas acusações, recrutou
falsas testemunhas contra Nabote e o condenou a morte em tribunal sacerdotal.
Acabe então se apodera da vinha e a transforma em seu jardim e horta. Esta
história tem forte similaridade e simbolismo com os eventos finais do
ministério terreno de Jesus, a trama feita pelos fariseus, a traição, as falsas
testemunhas e a condenação à cruz.
Apologia Intertextual
- A Bíblia usa a vinha como um símbolo de fonte espiritual, a Igreja.
- A vinha é também uma tipologia bíblica de um campo de trabalho espiritual.
- A palavra hebraica Nabote significa frutífero.
- O Senhor Jesus, a videira verdadeira é também o dono da vinha.
- O fruto espiritual da videira verdadeira é o próprio Jesus.
- O vinho produzido pelo fruto da videira simboliza o Espírito Santo.
- O objetivo de satanás é precisamente matar o dono da vinha, destruir a videira e plantar a sua horta.
Apologia da Numerologia
Se analisarmos todo o conjunto pelo significado espiritual
dos números (1) fica patente o oculto nas entrelinhas como se segue:
- Na Bíblia o numero 3 significa "perfeito testemunho, a divindade, a plenitude".
- Acabe fez 3 ofertas a Nabote para obter a sua vinha.
- Satanás fez 3 ofertas a Jesus no deserto.
- O valor numérico pela guematria do nome Judas em hebraico é 30
- O número 10 significa “Lei, Ordem, Restauração, Redenção, Responsabilidade”.
- Trinta moedas, 3x10= 30 que é o número da maturidade, significam então, "perfeito testemunho da responsabilidade, da restauração e redenção".
Apologia do Fato
O preço da traição seria a cobiça movida pela inveja sustentada
pelo orgulho. Isto teria o valor de 30 moedas de prata. Vejamos por quê?
Judas possivelmente admirava o Jesus espiritual, que ele
mesmo cobiçava, mas não conseguia alcançar porque estava ligado demais ao
humanismo. Movido por sentimentos, Judas usava argumentações humanistas para
questionar atos espirituais e sobrenaturais que ocorriam ao redor de Jesus. Ele
esperava, como alguns dos discípulos, que Jesus fosse o redentor da Israel
nação, um messias davídico que se tornaria rei.
A mesma atmosfera emocional que envolveu Acabe e Nabote,
parece que permeou o relacionamento entre Judas e Jesus nos dias que
antecederam a crucificação. O ato da traição foi, por conseguinte, decisão
pessoal, madura, responsável, movida por orgulho, inveja e pela cobiça, conjunto
que poderia ser chamado de “o perfeito pecado”.
O perfeito pecado é o que poderia ser considerado como o
“pecado original” de satanás:
- Ez 28:16 Na multiplicação do teu comercio......cobiça
- Ez 28:17 Elevou-se o teu coração .......orgulho
- Is 14:14a Subirei acima das mais altas nuvens......orgulho+cobiça
- Is 14:14b E serei semelhante ao Altíssimo ......inveja
O ato de Judas custou o mesmo preço da vinha de Nabote. A
vinha de Nabote custou sua própria vida, assim como a vinha de Jesus, a Igreja,
custou a sua vida. Valor profético em
moedas de prata. No Tabernáculo de Moisés, a prata significa o poder de
expiação e redentor de Jesus (2,3). Portanto, o ato da traição, foi a perfeita
manifestação, no tempo perfeito, movida pelo “perfeito pecado”, isto é, inveja
+ cobiça + orgulho = o pecado original de satanás, para dar início à perfeita
redenção da humanidade ao custo simbólico de 30 moedas de prata. Tudo ocorrendo
sob o perfeito controle de Deus.
Referências
1. Bullinger,
E.W. Number in Scriptures Supernatural
Design and Spiritual Significance. 4th Edition Revised. Eyre &
Spottiswood Editors, London, 1921.
2. Conner, K.J.
Tabernacle of Moses. 1st Edition.
City Christian Publishing, Portland, 1976.
3. Barbosa, C.E. O Tabernáculo
e a Pessoa de Yeshua. 1ₐ Edição. Editora Ruja, Rio de Janeiro,
2016.

