domingo, 11 de setembro de 2016

A Traição na Redenção

Judas Iscariotes

Um estudo da traição na redenção

Eventualmente colocam-se à discussão os sentimentos que levaram Judas Iscariotes ao ato da traição. Trair uma imagem de Jesus que ele idealizava no íntimo seria uma das várias hipóteses, mas divaga muito sobre o possível estado emocional de Judas. Qual imagem seria? Qual motivação?

Sentimento de frustração pelo fato de Jesus não ter sido o guerreiro davidico libertador que ele porventura esperava substanciaria a premissa da imagem corrompida, sobretudo porque alguns estudos sugerem que Judas simpatizava ou estaria envolvido com a seita dos Zelotes, conhecidos ativistas combativos contra o domínio romano.

Outra possibilidade envolveria algum sentimento de avareza. Judas era o tesoureiro do grupo e já houvera manifestado seu desagrado com o evento descrito em João 12, de Maria ter usado nos pés de Jesus uma libra de bálsamo de nardo puro, avaliado em 300 denários . Justificou que poderia ter sido vendido e distribuído aos pobres. O evangelista João, no entanto, comenta o fato dizendo que a verdadeira intenção de Judas era ter este dinheiro disponível na bolsa para eventualmente usa-lo para si e chama-o de ladrão.

No conjunto dos evangelhos os sentimentos envolvidos no ato da traição não ficaram bem esclarecidos. Contudo, há simbolismos nas ações, nos personagens, elementos e nos números encontrados nos textos de referência. Simbolismos que mostram a profunda expressão da dimensão espiritual do ato.


Mateus 26:15 relata que o preço da traição de Judas foi 30 moedas de prata. Em termos financeiros da época equivale ao preço de um escravo (Êxodo 21:32).

Se o boi chifrar um escravo ou uma escrava, dar-se-ão trinta siclos de prata ao senhor destes, e o boi será apedrejado.

Em termos proféticos seria o preço que o ministério de Jesus seria avaliado pelos sacerdotes, isto é, irrisório e irrelevante, como pronunciado pelo profeta Zacarias (Zc 11:12-13).

 12 Eu lhes disse: se vos parece bem, dai-me o meu salário; e, se não, deixai-o. Pesaram, pois, por meu salário trinta moedas de prata.
13 Então, o SENHOR me disse: Arroja isso ao oleiro, esse magnífico preço em que fui avaliado por eles. Tomei as trinta moedas de prata e as arrojei ao oleiro, na Casa do SENHOR.

Dentro desta dimensão espiritual, olhando mais profundamente o Velho Testamento, o preço da traição seria o equivalente ao valor da vinha de Nabote (1Reis 21). Mas o que a história da vinha de Nabote teria em comum com a figura de Jesus e a traição de Judas?

Na história descrita em 1Reis 21, vemos que o Rei Acabe tinha inveja de Nabote porque ele tinha uma vinha. O Rei tinha tudo, mas a vinha de Nabote era precisamente o algo mais que ele desejava ter. Acabe olhava a vinha da janela do seu palácio e cobiçava a área para fazer uma horta.

Acabe, então, faz três ofertas sucessivas a Nabote: Dê-me a tua vinha; vamos fazer uma troca; vende-me por qualquer preço.  O orgulho de poder do Rei Acabe não tolerava olhar a vinha que desejava sem poder tê-la porque Nabote não queria vende-la por ser herança familiar. As motivações no emocional de Acabe foram, certamente, a cobiça, inveja e orgulho.

Jezabel, a mulher de Acabe, tramou falsas acusações, recrutou falsas testemunhas contra Nabote e o condenou a morte em tribunal sacerdotal. Acabe então se apodera da vinha e a transforma em seu jardim e horta. Esta história tem forte similaridade e simbolismo com os eventos finais do ministério terreno de Jesus, a trama feita pelos fariseus, a traição, as falsas testemunhas e a condenação à cruz.

Apologia Intertextual

  • A Bíblia usa a vinha como um símbolo de fonte espiritual, a Igreja.
  • A vinha é também uma tipologia bíblica de um campo de trabalho espiritual.
  • A palavra hebraica Nabote significa frutífero.
  • O Senhor Jesus, a videira verdadeira é também o dono da vinha.
  • O fruto espiritual da videira verdadeira é o próprio Jesus.
  • O vinho produzido pelo fruto da videira simboliza o Espírito Santo.
  • O objetivo de satanás é precisamente matar o dono da vinha, destruir a videira e plantar a sua horta.


Apologia da Numerologia

Se analisarmos todo o conjunto pelo significado espiritual dos números (1) fica patente o oculto nas entrelinhas como se segue:

  • Na Bíblia o numero 3 significa "perfeito testemunho, a divindade, a plenitude".
  • Acabe fez 3 ofertas a Nabote para obter a sua vinha.
  • Satanás fez 3 ofertas a Jesus no deserto.
  • O valor numérico pela guematria do nome Judas em hebraico é 30
  • O número 10 significa “Lei, Ordem, Restauração, Redenção, Responsabilidade”.
  • Trinta moedas, 3x10= 30 que é o número da maturidade, significam então, "perfeito testemunho da responsabilidade, da restauração e redenção".


 Apologia do Fato

O preço da traição seria a cobiça movida pela inveja sustentada pelo orgulho. Isto teria o valor de 30 moedas de prata. Vejamos por quê?
Judas possivelmente admirava o Jesus espiritual, que ele mesmo cobiçava, mas não conseguia alcançar porque estava ligado demais ao humanismo. Movido por sentimentos, Judas usava argumentações humanistas para questionar atos espirituais e sobrenaturais que ocorriam ao redor de Jesus. Ele esperava, como alguns dos discípulos, que Jesus fosse o redentor da Israel nação, um messias davídico que se tornaria rei.

A mesma atmosfera emocional que envolveu Acabe e Nabote, parece que permeou o relacionamento entre Judas e Jesus nos dias que antecederam a crucificação. O ato da traição foi, por conseguinte, decisão pessoal, madura, responsável, movida por orgulho, inveja e pela cobiça, conjunto que poderia ser chamado de “o perfeito pecado”.

O perfeito pecado é o que poderia ser considerado como o “pecado original” de satanás:

  • Ez 28:16 Na multiplicação do teu comercio......cobiça
  • Ez 28:17 Elevou-se o teu coração .......orgulho
  • Is 14:14a Subirei acima das mais altas nuvens......orgulho+cobiça
  • Is 14:14b E serei semelhante ao Altíssimo ......inveja


O ato de Judas custou o mesmo preço da vinha de Nabote. A vinha de Nabote custou sua própria vida, assim como a vinha de Jesus, a Igreja, custou a sua vida.  Valor profético em moedas de prata. No Tabernáculo de Moisés, a prata significa o poder de expiação e redentor de Jesus (2,3). Portanto, o ato da traição, foi a perfeita manifestação, no tempo perfeito, movida pelo “perfeito pecado”, isto é, inveja + cobiça + orgulho = o pecado original de satanás, para dar início à perfeita redenção da humanidade ao custo simbólico de 30 moedas de prata. Tudo ocorrendo sob o perfeito controle de Deus.

Referências

1. Bullinger, E.W. Number in Scriptures Supernatural Design and Spiritual Significance. 4th Edition Revised. Eyre & Spottiswood Editors, London, 1921.
2. Conner, K.J. Tabernacle of Moses. 1st Edition. City Christian Publishing, Portland, 1976.

3. Barbosa, C.E. O Tabernáculo e a Pessoa de Yeshua. 1 Edição. Editora Ruja, Rio de Janeiro, 2016.

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