domingo, 11 de setembro de 2016

A Traição na Redenção

Judas Iscariotes

Um estudo da traição na redenção

Eventualmente colocam-se à discussão os sentimentos que levaram Judas Iscariotes ao ato da traição. Trair uma imagem de Jesus que ele idealizava no íntimo seria uma das várias hipóteses, mas divaga muito sobre o possível estado emocional de Judas. Qual imagem seria? Qual motivação?

Sentimento de frustração pelo fato de Jesus não ter sido o guerreiro davidico libertador que ele porventura esperava substanciaria a premissa da imagem corrompida, sobretudo porque alguns estudos sugerem que Judas simpatizava ou estaria envolvido com a seita dos Zelotes, conhecidos ativistas combativos contra o domínio romano.

Outra possibilidade envolveria algum sentimento de avareza. Judas era o tesoureiro do grupo e já houvera manifestado seu desagrado com o evento descrito em João 12, de Maria ter usado nos pés de Jesus uma libra de bálsamo de nardo puro, avaliado em 300 denários . Justificou que poderia ter sido vendido e distribuído aos pobres. O evangelista João, no entanto, comenta o fato dizendo que a verdadeira intenção de Judas era ter este dinheiro disponível na bolsa para eventualmente usa-lo para si e chama-o de ladrão.

No conjunto dos evangelhos os sentimentos envolvidos no ato da traição não ficaram bem esclarecidos. Contudo, há simbolismos nas ações, nos personagens, elementos e nos números encontrados nos textos de referência. Simbolismos que mostram a profunda expressão da dimensão espiritual do ato.


Mateus 26:15 relata que o preço da traição de Judas foi 30 moedas de prata. Em termos financeiros da época equivale ao preço de um escravo (Êxodo 21:32).

Se o boi chifrar um escravo ou uma escrava, dar-se-ão trinta siclos de prata ao senhor destes, e o boi será apedrejado.

Em termos proféticos seria o preço que o ministério de Jesus seria avaliado pelos sacerdotes, isto é, irrisório e irrelevante, como pronunciado pelo profeta Zacarias (Zc 11:12-13).

 12 Eu lhes disse: se vos parece bem, dai-me o meu salário; e, se não, deixai-o. Pesaram, pois, por meu salário trinta moedas de prata.
13 Então, o SENHOR me disse: Arroja isso ao oleiro, esse magnífico preço em que fui avaliado por eles. Tomei as trinta moedas de prata e as arrojei ao oleiro, na Casa do SENHOR.

Dentro desta dimensão espiritual, olhando mais profundamente o Velho Testamento, o preço da traição seria o equivalente ao valor da vinha de Nabote (1Reis 21). Mas o que a história da vinha de Nabote teria em comum com a figura de Jesus e a traição de Judas?

Na história descrita em 1Reis 21, vemos que o Rei Acabe tinha inveja de Nabote porque ele tinha uma vinha. O Rei tinha tudo, mas a vinha de Nabote era precisamente o algo mais que ele desejava ter. Acabe olhava a vinha da janela do seu palácio e cobiçava a área para fazer uma horta.

Acabe, então, faz três ofertas sucessivas a Nabote: Dê-me a tua vinha; vamos fazer uma troca; vende-me por qualquer preço.  O orgulho de poder do Rei Acabe não tolerava olhar a vinha que desejava sem poder tê-la porque Nabote não queria vende-la por ser herança familiar. As motivações no emocional de Acabe foram, certamente, a cobiça, inveja e orgulho.

Jezabel, a mulher de Acabe, tramou falsas acusações, recrutou falsas testemunhas contra Nabote e o condenou a morte em tribunal sacerdotal. Acabe então se apodera da vinha e a transforma em seu jardim e horta. Esta história tem forte similaridade e simbolismo com os eventos finais do ministério terreno de Jesus, a trama feita pelos fariseus, a traição, as falsas testemunhas e a condenação à cruz.

Apologia Intertextual

  • A Bíblia usa a vinha como um símbolo de fonte espiritual, a Igreja.
  • A vinha é também uma tipologia bíblica de um campo de trabalho espiritual.
  • A palavra hebraica Nabote significa frutífero.
  • O Senhor Jesus, a videira verdadeira é também o dono da vinha.
  • O fruto espiritual da videira verdadeira é o próprio Jesus.
  • O vinho produzido pelo fruto da videira simboliza o Espírito Santo.
  • O objetivo de satanás é precisamente matar o dono da vinha, destruir a videira e plantar a sua horta.


Apologia da Numerologia

Se analisarmos todo o conjunto pelo significado espiritual dos números (1) fica patente o oculto nas entrelinhas como se segue:

  • Na Bíblia o numero 3 significa "perfeito testemunho, a divindade, a plenitude".
  • Acabe fez 3 ofertas a Nabote para obter a sua vinha.
  • Satanás fez 3 ofertas a Jesus no deserto.
  • O valor numérico pela guematria do nome Judas em hebraico é 30
  • O número 10 significa “Lei, Ordem, Restauração, Redenção, Responsabilidade”.
  • Trinta moedas, 3x10= 30 que é o número da maturidade, significam então, "perfeito testemunho da responsabilidade, da restauração e redenção".


 Apologia do Fato

O preço da traição seria a cobiça movida pela inveja sustentada pelo orgulho. Isto teria o valor de 30 moedas de prata. Vejamos por quê?
Judas possivelmente admirava o Jesus espiritual, que ele mesmo cobiçava, mas não conseguia alcançar porque estava ligado demais ao humanismo. Movido por sentimentos, Judas usava argumentações humanistas para questionar atos espirituais e sobrenaturais que ocorriam ao redor de Jesus. Ele esperava, como alguns dos discípulos, que Jesus fosse o redentor da Israel nação, um messias davídico que se tornaria rei.

A mesma atmosfera emocional que envolveu Acabe e Nabote, parece que permeou o relacionamento entre Judas e Jesus nos dias que antecederam a crucificação. O ato da traição foi, por conseguinte, decisão pessoal, madura, responsável, movida por orgulho, inveja e pela cobiça, conjunto que poderia ser chamado de “o perfeito pecado”.

O perfeito pecado é o que poderia ser considerado como o “pecado original” de satanás:

  • Ez 28:16 Na multiplicação do teu comercio......cobiça
  • Ez 28:17 Elevou-se o teu coração .......orgulho
  • Is 14:14a Subirei acima das mais altas nuvens......orgulho+cobiça
  • Is 14:14b E serei semelhante ao Altíssimo ......inveja


O ato de Judas custou o mesmo preço da vinha de Nabote. A vinha de Nabote custou sua própria vida, assim como a vinha de Jesus, a Igreja, custou a sua vida.  Valor profético em moedas de prata. No Tabernáculo de Moisés, a prata significa o poder de expiação e redentor de Jesus (2,3). Portanto, o ato da traição, foi a perfeita manifestação, no tempo perfeito, movida pelo “perfeito pecado”, isto é, inveja + cobiça + orgulho = o pecado original de satanás, para dar início à perfeita redenção da humanidade ao custo simbólico de 30 moedas de prata. Tudo ocorrendo sob o perfeito controle de Deus.

Referências

1. Bullinger, E.W. Number in Scriptures Supernatural Design and Spiritual Significance. 4th Edition Revised. Eyre & Spottiswood Editors, London, 1921.
2. Conner, K.J. Tabernacle of Moses. 1st Edition. City Christian Publishing, Portland, 1976.

3. Barbosa, C.E. O Tabernáculo e a Pessoa de Yeshua. 1 Edição. Editora Ruja, Rio de Janeiro, 2016.

terça-feira, 5 de abril de 2016

O DEUS SUBJUNTIVO



O Deus Subjuntivo

O Deus Que Talvez Possa.

Toda comunidade humana que tem alguma homogeneidade de pensamento ou conduta é um grupo com uma identidade social. A linguagem é um conjunto de símbolos. Quer seja tal comunidade aberta ou fechada, ela desenvolve uma linguagem e um maneirismo diferenciados, com vocabulário e expressões próprias do grupo, que o distingue de outros grupos sociais, produzindo uma identidade sociocultural. Este processo social caracteriza a personalidade coletiva do grupo.

Na antropologia social, estas variações linguísticas, são conhecidas como retórica e discurso. O discurso também pode incluir a expressão através do vestuário. Existem as linguagens dos surfistas, grunges, nerds, geeks, darks, emos, punks, góticos etc. A antropologia chama estes grupos de Tribos Urbanas. Os grupos religiosos também desenvolvem uma linguagem própria. O povo católico tem uma linguagem peculiar, com expressões próprias que já se tornaram mais do que populares. Por exemplo, as exclamações: “Virgem Santa!”, “JesusMariaJose!”, “Valha-me São Fulano!”, “Credo!”. Usam o termo rezar ao invés de orar, carisma ao invés de dom, comunhão ao invés de ceia, etc.

O povo evangélico não escapou dessa tendência de ser um grupo social-religioso com linguagem própria. O maneirismo e a linguística evangélica é tão profícua, abundante e diversa que enquadra quase uma nova dialética social. A linguagem dos evangélicos já pode ser chamada de "evangeliquês". Expressões como "tá amarrado", "o sangue de Jesus tem poder", "repreendo esta palavra", "amarrar o capeta", "manto de mistério", "passar pela prova", "pagar o preço" e outras inumeráveis fazem parte do cotidiano de comunicação entre os evangélicos. Tornaram-se tão comuns que passaram a ser usadas pela população em geral fora do cosmo evangélico. 

A disciplina de Sociologia ensina que todo o aprendizado social se desenvolve através de processos como a imitação, a sugestão, a simpatia e a identificação. A imitação é a tendência que vem da infância de repetir o comportamento de seus pais ou das pessoas com as quais convivem. A sugestão é o mecanismo psicológico que leva pessoas a aceitar ou fazer o que lhe é induzido por outra que ela admira. A simpatia leva as pessoas a adotar distraidamente o comportamento de outras pessoas com quem ela mantém laços afetivos. A identificação é o processo de vivenciar outra personalidade, imitando atitudes, postura, maneirismos, expressões vocais, quase de modo infantil. As expressões do “evangeliquês” geralmente nascem no púlpito das igrejas devido ao uso sistemático em pregações e são imitadas pelos ouvintes, pela familiarização por repetição, por confiar na erudição do pregador, ter simpatia por ele e se identificar com ele. 


A expressão “muita das vezes" é um dos exemplos da disseminação viral de uma expressão aparentemente nascida em igrejas evangélicas. Se a pessoa está querendo dizer "frequentemente" no sentido de ocorrência repetida, a expressão adverbial correta é "muitas vezes", não havendo a necessidade da contração da preposição "de". A epidemia do "muitadasvezes" se propagou tão fortemente que até apresentadores de TV famosos já a empregaram ao vivo nas programações.

A última epidemia de modismo de frases é lamentavelmente a disseminação do "QueDeusPossa" ou o Deus Subjuntivo. De acordo com a definição gramatical do tempo verbal temos: 

"O Modo Subjuntivo, assim como o Indicativo, se caracteriza por um conceito semântico, é considerado o modo verbal que ao invés de expressar uma certeza expressará uma ideia de dúvida, exprime uma ação irreal, hipotética" [InfoEscola.com].

As frases empregadas de modo disseminado por pregadores evangélicos como: "Que Deus possa te”...abençoar, prosperar, curar, libertar, abrir a mente, e etc. descaracteriza o Deus presente, da certeza, em quem se pode confiar e enfatiza o Deus da incerteza, da dúvida, que talvez agirá. O Deus Subjuntivo é aquele Deus que eventualmente poderá ou não abençoar, talvez dependendo do humor Dele, no momento da oração subjuntiva.

A expressão "queDeuspossa" é tão maligna que já está ficando arraigada na retórica evangélica. Este próprio autor assistiu recentemente uma grande aberração ao vivo. Durante a pregação de uma pastora missionária americana famosa, ela foi tomada por um momento profético e começou abençoar o povo dizendo em inglês__ "abençoa Senhor...etc" no presente do indicativo e até mesmo no imperativo, mas a pastora brasileira que estava fazendo a tradução dizia__ "que Deus possa te abençoar". Uma invocando profeticamente o Deus presente, da certeza, e a outra invocando o Deus subjuntivo, da incerteza. Quase que destruindo a ação profética da missionária.

Dizer: "Irmão, queDeuspossa te abençoar neste dia" significa dizer "Irmão, que Deus talvez te abençoe neste dia" ou "é possível que Deus te abençoe neste dia, vamos torcer". Imaginem como ficaria algumas frases famosas do apóstolo Paulo no subjuntivo:

Tudo posso naquele que me fortalece. “Que eu tudo possa naquele que possa me fortalecer” [Fp 4:13]. 

E toda língua confesse que Jesus Cristo é o Senhor, para a gloria de Deus Pai. “Que toda língua possa confessar que Jesus Cristo é o Senhor, para a glória de Deus Pai” [Fp 2:11]. 

Quero pois que todos os varões orem em todo o lugar, levantando... “Quero pois, que todos os varões possam orar em todo o lugar, levantando...” [1Tm 2:8].


Em todas estas coisas, porém, somos mais do que vencedores... “Em todas estas coisas, porém, que possamos ser mais do que vencedores... [Rm 8:37].

O mesmo Deus da paz vos santifique em tudo... “O mesmo Deus da paz possa vos santificar em tudo...” [1Ts 5:23]

Este Deus subjuntivo seria imprevisível. Profetizar a Palavra de Deus no subjuntivo transforma a profecia num pronunciamento aberrante, quiçá produzindo resultados espirituais irrelevantes. Portanto, vamos colocar esta expressão QueDeusPossa no saco de lixo cultural da nossa historia evangélica.

sexta-feira, 4 de março de 2016

A OUTRA PÁSCOA



A Outra Páscoa
Como Roubar a Gloria de Jesus
2°Edição Estendida

O diabo, demônio, cão, capeta, satanás etc. é aquele querubim decaído que todos conhecem e que sempre quis imitar Deus. Ele sempre procura ridicularizar Deus ao máximo antes de cumprir a sua própria condenação eterna. Tenta de todas as maneiras, em todas as circunstâncias e com relativo sucesso, diminuir ou roubar a glória que pertence a Jesus. Mas isto já é de conhecimento geral. Nenhuma novidade. No entanto, poucos sabem que um dos grandes exemplos disso é a usurpação da Páscoa para sua glória em detrimento da glória de Jesus. Como se estivesse dizendo a Jesus: Veja! No dia da sua Páscoa, que representa a sua vitória, eles me honram também”. Vejamos como esta aberração se tornou possível.

Nas línguas de origem grega e latina, o nome utilizado para Páscoa é um derivativo do grego koiné Paskha e do latim Pascha, por sua vez derivado do aramaico Pesaḥ e do hebraico Pesach, que significa “passagem”. É um termo utilizado originalmente para designar uma festa judaica comemorando o Êxodo, conhecida como Páscoa judaica. Nesta mesma Páscoa judaica Jesus fez sua última ceia e isto passou a ser comemorado como a Páscoa cristã. Os evangélicos então comemoram não só a Páscoa como sendo a última ceia, morte e ressurreição, como também a repetem mensalmente em menor escala na forma da Ceia do Senhor.

Diferentemente, o termo Páscoa em inglês é Easter, cognato com alemão moderno Ostern, derivado do inglês antigo Ēastre ou Ēostre, tem origem possivelmente do advérbio alemão ostar que expressa algo semelhante ao “sol nascente” ou “sol que se eleva”. O nome Ēostre anglo-saxão é cognato de Ostara que no alemão arcaico significa Deusa da Aurora. Estudos etimológicos sugerem fortemente que a origem do nome Ēostre, é uma variante de um termo indo-germânico encontrado em muitos lugares para se referir a Deusa do Amanhecer, a divindade pagã relacionada ao planeta Vênus. Nas antigas terras germânicas, hoje Alemanha e Áustria, rios, cidades e cavernas eram consagrados a ela.

Por estar associada à aurora, Ēostre foi posteriormente relacionada também à luz crescente da primavera, momento em que, dizia a lenda, “traria alegria e bênçãos a terra”. Os antigos povos nórdicos comemoravam o festival de Ēostre no dia 30 de Março. Esta divindade deu nome a um antigo sabbat pagão que celebra o renascimento e o equinócio de primavera, chamado o dia de Ostara, comemorado até hoje na forma de um festival (DW), inclusive como atração turística alemã misturada com a Páscoa (“feliz dia de Ostara”). Ostara também é uma das cartas de tarot satanista-wicca.


Dos antigos cultos pagãos originaram-se a festa da Páscoa (Easter, em inglês e Ostern em alemão). Inicialmente, este culto foi absorvido e misturado às divindades greco-romanas na ocupação da Germânia pelo Império Romano. Mais tarde, novamente absorvido e incorporado às comemorações judaico-cristãs, através do sincretismo religioso, durante a cristianização das províncias anglo-saxônicas e germânicas do império, sobretudo pela igreja católica romana.

Seu nome e funções têm relação com a deusa grega Eos, deusa do amanhecer na mitologia grega e a sua cognata romana Aurora e a nórdica Freya. Também associam à Astarte (deusa Fenícia) e Ishtar (deusa Babilônica), devido às similaridades em seus respectivos festivais da primavera. Também relacionados a Tanit fenícia e a Moloch amonita-amorreu, devido a predileção por crianças. A maioria destes deuses se apresentam com os mesmos rituais de sacrifícios humanos, aqueles de jogar crianças vivas ao fogo.

A própria mitologia diz que Ēostre/Ostara tinha uma especial predileção e afeição por crianças. A lenda associada à deusa diz que onde quer que ela fosse crianças a seguiam e a deusa adorava cantar e entretê-las com sua magia; significando uma ação evidente de encantamento e domínio. Seus símbolos são a lebre ou o coelho e os ovos coloridos, todos representando a fertilidade, a renovação ou ressurreição e o início de uma nova vida. Como vemos hoje o encantamento midiático efetuado com o coelhinho da páscoa, os ovos super-atraentes e enfeitados, feitos de chocolate e cheios de guloseimas ou presentinhos, especialmente elaborados para atrair crianças a correr atrás das pegadas do coelhinho.

Para os cristãos é importante ter firme na mente que a origem da Páscoa não pode ser vista pelo nome na língua inglesa, mas no original hebraico, (
פֶּסַח) Pesach, que significa salto, pulo ou passar por cima. O salto do anjo destruidor do Deus Altíssimo sobre as casas dos filhos de Israel escravizados no Egito, que tinham o sangue do cordeiro passado sobre as ombreiras de suas portas (Êxodo 12), mas visitando mortalmente os primogênitos egípcios na ultima praga contra o Faraó.

No cristianismo a Páscoa judaica foi associada, pela tradição cristã, a última ceia, a morte e a ressurreição de Jesus. Em muitos idiomas, a palavra Páscoa segue esse seu sentido original, passagem, mas a palavra no inglês e alemão não seguiu esse sentido original. Portanto é importante saber essa diferença, entre os cultos pagãos e judaico-cristãos. Posteriormente, a igreja católica acabou por substituir o festival pagão de Ostara pela Páscoa, infelizmente absorvendo muitos de seus costumes, inclusive os ovos e o coelhinho da Páscoa. Este sincretismo não foi somente a absorção de uma cultura religiosa ou tradição, foi absorção do próprio culto religioso. Isto é evidente porque o cerimonial do culto que é a troca de doces e ovos adornados, os símbolos cultuais que são o coelho e a lebre, e o elemento ritualístico que são os ovos estão presentes ativamente e são pontos centrais nas comemorações contemporâneas. 


Com os estudos modernos de guerra espiritual, mapeamento e hierarquia de demônios (Cabezas 1995), muitos deuses de antigas civilizações puderam ser associados aos principados satânicos, estabelecendo uma cadeia de comando, analisando suas práticas de cultos, festivais, associações astrológicas, votos, sacrifícios etc. Os antigos deuses foram agrupados sugerindo serem arquétipos do mesmo demônio ou anjo decaído, dominador (Gr. Kosmokrator) de um principado (Efésios 6:12). São os generais de satanás (Cecarelli 2014)

A deusa Ēostre-Ostara, divindade da páscoa-pagã, é um dos arquétipos do dominador do principado de Afrodite/Vênus, que comanda sensualidade, bebidas, glutonarias, luxúria, vícios, no sistema mundano. Está relacionado em várias culturas com a primavera, aurora, fertilidade, águas, mares, espumas etc.(Cecarelli 2014). Os principais estereótipos ou arquétipos relacionados nas mitologias ao longo dos séculos deste principado são:




Arquétipos do Principado Afrodite/Vênus

Afrodite, Hera e Eos grega

Vênus e Aurora romana

Freya nórdica

Ostara germânica

Easter- Ēostre anglo-saxônica

Oxum africano

Ruda tupi

Tanit cartaginesa

Astarte e Astaroth fenícia-canaanita

Moloch amonita-amorreu

Astghik armênia

Asera acadiana

Asherah-Athirat ugarítica

Ishtar assírio-babilônica

Inanna suméria.


Quem participa da tradição da Páscoa secular de dar e receber ovos, induzir crianças a brincar de coelhinho, trocar doces, chocolates, presentes etc., está homenageando cultualmente um dos mais fortes principados satânicos, aquele que exerce domínio sobre os prazeres carnais e sensualidade no sistema mundano: o principado de Afrodite-Vênus. Não cabe a argumentação inocente de que são somente ovinhos, chocolates e coelhinhos, porque configuram exatamente o cerimonial satanista pagão. Nisto consiste o ato de roubar a glória de Jesus na Páscoa e compartilha-la com satanás: A páscoa de Ostara significa um novo amanhecer, renovação e ressurreição.


A Páscoa cristã é uma festividade para comemorar a ressurreição do Nosso Senhor Jesus Cristo, que nos trouxe a nossa própria ressurreição para vida eterna, tomando as chaves do inferno, derrotando os principados e potestades e não fazer o contrário, o incrível paradoxo de homenagear o derrotado. Chocolate, nós podemos comer o ano todo. Deixemos para trás os símbolos satanistas que exaltam o inimigo. Vamos celebrar a nossa Páscoa comemorando a vitória de Jesus e tomar a Ceia do Senhor.

REFERENCIAS
Cabezas, R. Lucha Contra Principados Demoniacos. 1° Edição, Editorial Unilit, Miami, 1995.
Cecarelli, R. Benaia. A Carreira do Ministro e a Guerra Espiritual. 1° Edição. Editora Rebentos, São Paulo, 2014.
DW. Deutsche Welle. Páscoa: Mitos germânicos e tradições cristãs. Editado por Neusa Soliz. Disponível em: http://dw.com/p/3V8o.

terça-feira, 1 de março de 2016

Dízimo e Teologia do Devorador


A TEOLOGIA DO DEVORADOR:

Como uma Suposição Teológica se Torna Doutrina no Brasil

3a Edição Estendida.



A Bíblia é, certamente, o livro mais rebuscado e pesquisado de todos os tempos pelas ciências da Exegese, Hermenêutica e Semântica. Vejamos o que significam.

Exegese (Gr. éxegésis) é uma interpretação muito detalhada e cuidadosa de um texto, expressão ou palavra, uma profunda análise para expor o máximo do que o texto quer se referir. A Hermenêutica é a ciência da interpretação de textos (epistemologia) ou de uma realidade descrita (ontologia). Nos estudos bíblicos, a exegese e a hermenêutica caminham juntas na interpretação dos textos, muitas vezes difíceis de compreender devido às simbologias textuais e as diferentes traduções dos léxicos grego, aramaico ou hebraico. A Hermenêutica e a Exegese precisam usar também a ferramenta da Linguística chamada Semântica, que estuda o significado das palavras ou expressões de uma língua (Semântica Lexical).

Desde o século II DC vem se realizando constantes concílios e reuniões para tratar da interpretação dos textos bíblicos tanto pelos judeus quanto pelos cristãos. O campo de pesquisa da interpretação de textos bíblicos nunca se esgotou mesmo com a consumação de 20 séculos de cristianismo. Revelações ainda poderão surgir eventualmente. Com a descoberta dos Manuscritos do Mar Morto no século passado muitas dúvidas da linguística hebraica antiga tem sido dissipadas. Pelos estudos de manuscritos mais antigos da Septuaginta, versão grega antiga do Velho Testamento, algumas correções têm sido propostas por estudiosos de Teologia em universidades famosas como a University of Pennsylvania ou por estudiosos de língua semítica e grega como o Dr. Michael Heiser, um dos editores do Logos Bible Software. Um bom exemplo disso é a discussão atual em torno do texto de Deuteronômio 32:8, cujo estudo tem apresentado novos conhecimentos sobre guerra espiritual. Tudo que envolve um novo entendimento é sempre discutido por longo tempo em publicações, debates, reuniões até que se estabeleça consenso se a nova proposta seria realmente a realidade dialética do texto.

Na década de 90 surgiram muitos estudos de igrejas evangélicas americanas sobre guerra espiritual, maldições hereditárias, espíritos familiares, espíritos territoriais etc. Exemplos de escritores e conferencistas como Rebecca Brown, Marilyn Hickey, Frank Peretti, Peter Wagner, Mark Bubeck, Rony Chaves, e outros que também vieram ao Brasil para realizar palestras e pregações, tiveram livros traduzidos para o português, trouxeram a influencia deste conhecimento para igrejas evangélicas brasileiras. Guerra espiritual e batalha espiritual tornou-se disciplina inclusiva em alguns seminários teológicos no país. Surgiram pastores brasileiros envolvidos com estes estudos, ressaltamos Valnice Milhomems e Robson Rodovalho na década de 90. Este último publicou em 1995 o livro Por Trás das Bênçãos e Maldições (1, recentemente revisado e estendido como Bênçãos ou Maldições) que trata da guerra espiritual em voga, mas acrescenta a teologia do Devorador, ou a dos demônios gafanhotos, Cortador, Migrador, Destruidor, Devorador.

Esta hipótese teológica é tratada no livro como uma revelação espiritual. Tenta explicar maldições financeiras como decorrente da inobservância do ato de dar o dízimo descrito em Malaquias 3:10-11. A publicação deste livro e as palestras e pregações de Valnice Milhomems sobre estes mesmos gafanhotos durante longo período nos seus cultos na TV nos anos 90, desencadeou uma onda de um suposto novo conhecimento sobre a dicotomia maldição financeira-bênção de prosperidade, numa época que as igrejas da polêmica Teologia da Prosperidade começavam a crescer vertiginosamente. Este estudo teológico do suposto Devorador foi sendo disseminado perigosamente como um conhecimento já estabelecido, tornando-se parte da retórica evangélica até o presente.

Cunhou-se até mesmo uma expressão linguística evangélica mais moderna de que não se dá o dízimo, e sim que o dízimo se devolve a Deus. Expressão contraditória visto que Deus deixou de ser dono do dízimo quando disse em Números 18:21:

“Aos filhos de Levi dei todos os dízimos em Israel por herança, pelo serviço que prestam, serviço da tenda da congregação”. ARA

Não se devolve algo a quem não é proprietário, pois inepto ato é. Se a moda agora é dizer que vamos devolver o dizimo, então se devolva a quem é proprietário de direito. Apesar de que em Levítico 27:30-32, logo após a saída do Egito, Deus tenha instruído separar as dizimas da terra e do gado para ele, vários anos depois em Números 18, durante a peregrinação no deserto, ele transfere a propriedade dos dízimos aos levitas.

Sendo, pois uma instrução levítica o dízimo deve ser devolvido à administração da igreja, que incorpora ou representa a função levítica moderna. Colocar uma aura supra-espiritual na expressão “devolver o dízimo a Deus” parece uma figuração de marketing para esconder a igreja do palco. Deus não vai usar o dinheiro para nada e nem vai administrar seu uso. Deus conferiu esta autoridade à igreja. O dinheiro ofertado é propriedade da igreja tanto espiritualmente quanto juridicamente. É ela, a igreja, quem vai administrar as finanças como desejar e isto é o que realmente procede. Qualquer coisa, além disso, é interpretação pessoal fora da Bíblia.

A Teologia do Demônio Devorador foi assimilada fortemente pelas lideranças da maioria das igrejas e incutida fortemente nas mentes dos membros de forma que se criou uma cultura de medo dos supostos demônios gafanhotos. Se não der o dízimo, as finanças ficarão comprometidas, porque o devorador vai atacar na farmácia, no emprego, no salário, no carro, nas dívidas, no SPC, etc. Esta visão é anacrônica no advento do Tempo da Graça Salvadora de Jesus Cristo, que anulou todas as maldições pelo seu sacrifício na Cruz de Calvário. A promoção do medo das consequências sobre as pessoas coloca jugo ou domínio psicológico sobre elas. “Se não dizimar vai sofrer!” Se a pessoa doa dinheiro pelo medo de não dar, faz oferta sem amor ou gratidão subjugada por uma ordenança maior, o ato não tem qualquer valor no Reino de Deus. Este ato contradiz Jesus em João 8:32 “e conhecereis a verdade e a verdade vos libertará” e  o Apóstolo Paulo que disse em Gálatas 5:1 “Para a liberdade foi que Cristo nos libertou. Permanecei, pois, firmes e não vos submetais, de novo, a jugo de escravidão.”.

Ao adotar este novo conhecimento a Teologia da Graça terá de ser reescrita, acrescentando que a maldição do devorador permaneceria excepcionalmente fora do rol de maldições que Jesus levou. A Graça de Deus teria uma ressalva, uma cláusula condicional restritiva: somos benditos em tudo exceto se negarmos os dízimos; neste caso aplicar-se-ia uma sentença: “...com maldição sois amaldiçoados...” (Malaquias 3:9). Teríamos então que modificar as doutrinas paulinas, os alicerces doutrinários do cristianismo, que dizem que as contribuições são voluntárias, alegres e sinceras. Em fazendo isto estaria se criando uma heresia.

Esta teologia vai mais além ao contrassenso, pois considera que no verso 11 de Malaquias 3 estaria incluso um procedimento espiritual oculto na frase onde Deus diz: “...repreenderei o devorador...”. A Teologia do Devorador assinala que este demônio seria de uma casta especial. Um tipo demoníaco tal que somente o Deus Pai poderia conte-lo, repreende-lo ou anula-lo. Existindo esta exceção espiritual, criar-se-ia uma incompatibilidade lógica com as palavras de Jesus em Mateus 28:18,  Toda a autoridade me foi dada nos céus e na terra”. Teríamos então que reescrever o evangelho para: “Toda a autoridade me foi dada nos céus e na terra exceto sobre o Devorador, porque sobre este só meu Pai tem”. Totalmente incoerente e discrepante. Uma  contradição doutrinária, beirando a insensatez.

Esta suposição teológica não se sustentaria se fossem aplicadas as técnicas de exegese, hermenêutica e semântica em todos os pontos propostos pelo autor do livro. A Cabala, que estudou todos os demônios do imaginário espiritual judaico nunca identificou e nem ao menos citou este demônio Devorador (Zohar, Moiséis de Leon, sec XVII). Nenhum livro apócrifo judaico ou gnóstico faz menção de um devorador de finanças. Em revisões extensas de demonologia (Belanger 2010) e na enciclopédia de demônios (Bane 1979) não há menção de um devorador nas religiões do Oriente Médio, exceto o demônio Fagani (*), servidor de Astaroth, relacionado à magia e bruxaria, similar a Ammit (**), demônio funerário egípcio, relacionado ao crocodilo (Livro dos Mortos), citados com devorador de almas e não de finanças nem bens materiais. O demônio que se acredita dominar sobre finanças, citado por Jesus, chama-se Mamon, a palavra hebraica para dinheiro. Sugere-se que Mamon governa sobre o sistema financeiro mundial. Nada relacionado com dízimos e sim com a avareza.

Muitas das traduções do VT nos diversos idiomas da Bíblia são oriundas majoritariamente da Septuaginta. Esta foi a tradução do hebraico para o grego feita pelos sábios judeus do Templo de Jerusalém para a Biblioteca de Alexandria durante a Era Ptolomaica no Egito, século II AC. Em todas a traduções de Malaquias 3:11, a frase “...eu repreenderei o devorador...”, se refere a gafanhotos ou pragas e não a demônios e isto sem exceção.

Em Gill´s Exposition of the Entire Bible, faz menção da tradução de devorador para o sentido literal, comedor (Lt. “comedentem”, comedor;  eum qui comedit”, alguém que come). Outras traduções para o inglês retiram o devorador. Por exemplo:

A New International Version (NIV) traduz “Vou impedir as pragas de devorar suas colheitas....”.  

A versão New Living Translation (NLT) traduz “Suas colheitas serão abundantes, pois eu as guardarei dos insetos e das doenças”.

A versão New English Translation (NET) traduz “Eu pararei a praga que está destruindo suas colheitas...”.

Na versão Young´s Literal Translation (YLT) traduz: “E eu tenho defendido vocês contra o consumidor de colheitas...”.

Nas Bíblias hebraicas originadas de textos massoréticos (***) como a NJV ou NJPS da Jewish Publication Society (JPS) traduz: “...e eu banirei de vocês o gafanhoto, tanto que não destruirá o produto do solo...”.

Nas versões inglesas de textos massoréticos (***) como HBME (The Holy Bible in Modern English) traduz: “...eu encherei os seus celeiros e conduzirei os destruidores para longe de arruinar o fruto de seus trabalhos...”.

Todas as versões do Velho Testamento falam do Devorador como um gafanhoto migrador, devorador e cortador, que são as fases evolutivas da forma adulta do inseto, e da sua lagarta como destruidora de sementes, com um significado semântico de praga (Êxodo 10, Juízes 6 e 7, Joel 2). A nuvem de gafanhotos foi uma das pragas lançadas por Deus sobre o Egito pela mão de Moisés (Êxodo 10:12-15). Uma praga natural que existe até os dias de hoje em várias partes do planeta. Na incontestável antevisão divina do comportamento deste inseto no mundo natural e a sua influência negativa no equilíbrio ecológico na agricultura de subsistência do Oriente Médio, Deus enumera a praga dos gafanhotos como uma das maldições da desobediência. (Deuteronômio 28:38). Ademais, era Deus que enviava e era ele mesmo que dispersava (“repreendia”) a nuvem de gafanhotos, nem de longe sugerindo um agente demoníaco. Deus não abençoa pecadores. No atual mundo cristão, ele usa o sistema financeiro para forçar correção dos seus filhos. Quem se mantém na prática do pecado permanece endividado e sem prosperidade mesmo sendo dizimista. Não se trata de um demônio e sim a mão corretiva de Deus.

Dentro destes aspectos contraditórios desta suposta existência de um demônio Devorador fica a pergunta: Como as autoridades eclesiásticas e denominações evangélicas brasileiras, principalmente os pentecostais, aceitam uma simples suposição teológica como conhecimento estabelecido? Por que incorporam uma pretensa revelação à doutrina sem extensa discussão exegética entre “experts”, professores de teologia e principais das denominações? Podem-se sugerir algumas razões.



  • Ignorância ou falta de conhecimento
  • Dissociação e falta de unidade
  • Oportunismo



Ignorância ou Falta de Conhecimento

Falta de conhecimento é endêmica no Brasil, tanto secularmente quanto eclesiasticamente. O Brasil carece de mestres seculares e os evangélicos carecem de ministros com dom de Mestre. Eventualmente quando um Mestre chega a uma determinada congregação ele pode sofrer discriminação e segregação, provocada pelo orgulho da liderança e por medo de que o conhecimento maior dele possa fazer sombra ao nível cultural do líder e/ou expô-lo depreciativamente.

O Brasil evangélico lê pouco, discute pouco, publica pouco e pouco incentiva a cultura e literatura. Os evangélicos tem medo de discutir novas correntes, ideias ou conhecimento teológicos por temor da suspeita de estarem produzindo ou divulgando heresia. No entanto, aceitam muita coisa sem discutir, achando tratar-se de revelação, se proveio de um líder renomado, um contrassenso. Não conseguem distinguir discussão teológica cultural da teologia doutrinária, achando que discutir teologia é obra do demônio, não entendendo que é o contrario, isto é, para o aprimoramento cultural do ministro de Deus. Não há revistas especializadas, não se fazem congressos, simpósios, palestras, grupos de discussão nem monitorias sobre temas bíblicos. Não se publicam revisões de conhecimento.  Maior parte da literatura disponível é traduzida de autores americanos. Infelizmente, o ensino religioso na formação de pastores e líderes é feito ainda hoje através de apostilas com informações precárias e tendenciosas, em cursos rápidos sem substância cultural. Qualquer contestação é rechaçada entre alunos e professores, os quais também foram formados da mesma forma. Enfim, um mundo evangélico culturalmente incipiente, inodoro, insosso e insípido. “A ignorância produz ignorância, o conhecimento produz saber, o saber produz entendimento, o entendimento produz segurança” (do Autor).



Dissociação e Falta de Unidade

A falta de unidade é patente no universo evangélico brasileiro. Pequenos líderes contestando líderes igualmente pequenos, grandes líderes contestando entre si, grandes denominações contestando denominações grandes, um circo egocêntrico. O evangelho que deveria ser associativo e aglutinador em torno da sã doutrina básica se tornou dissociativo e dispersor em torno de diferenças doutrinárias irrelevantes e periféricas da doutrina básica. Cada mente é um mundo original a parte, todos são príncipes de seus territórios espirituais, consideram-se “ministérios proféticos para uma grande obra”, todos acham, citando o poeta português Fernando Pessoa, que irão “...dominar o mundo depois de amanhã” construindo igrejas mundo afora. Este aspecto dissociativo e ao mesmo tempo megalomaníaco do planeta evangélico brasileiro é extremamente pernicioso no âmbito cultural, pois mina os baluartes filosóficos do conhecimento, a saber, os pares prova/refutação (muito usado em análises científicas) e o senso/consenso (muito usado em análises semânticas). Ninguém quer discutir questões teológicas porque todos se consideram donos das suas próprias verdades absolutas.



Oportunismo

Para alguns líderes evangélicos parece ser oportuno manter ativa esta “revelação” infundada do Devorador apesar terem ciência da verdade. Não por ignorância, nem por falta de conhecimento, nem mesmo por falta de unidade, mas por oportunismo financeiro. Defendem ardentemente esta posição citando Malaquias 3:8, ou quem rouba a Deus se torna vítima do demônio Devorador, mas no íntimo sabem que estão fazendo uma “falsidade ideológica doutrinária”.

Usar Malaquias para atemorizar e manter um povo sob um jugo é uma estratégia perversa de domínio psicológico. Isto porque a profecia de Malaquias não é instrução e sim juízo. A instrução sobre dízimos e ofertas está em Números 18, como já fora dito acima. Deus usou o profeta Malaquias para pronunciar juízo sobre os sacerdotes, que roubavam os dízimos dos levitas, aos quais ele, Deus, prometera sustento perpétuo.  Deus disse aos sacerdotes “amaldiçoarei as vossas bênçãos” (Malaquias 2:2). No sistema de governo divino as bênçãos ou maldições partem do templo para o povo, destarte até os dias atuais. Se a liderança do templo está corrompida, o povo se corrompe também. Se um pastor mente, adultera, prevarica, rouba, seu povo será reflexo dele. É o dominó da maldição. O povo Judeu estava corrompido por causa da corrupção sacerdotal e todos foram amaldiçoados consequentemente.

Os líderes evangélicos que mantém as pessoas sob o jugo espectral do Devorador não deveriam esquecer: quem conhece a verdade, mas ensina errado para obter alguma vantagem, estará sujeito ao julgamento de Tiago 3:1:

Meus irmãos, não vos torneis muitos de vós mestres, sabendo que havemos de receber maior juízo.”



TERMOS:

*Fagani. Serviço de Astharoth, nome relacionado a “devorador”. Magia, domínio de corações e mentes. Bruxaria.

** Ammit. Devorador de almas, comedor de coração, divindade funerária egípcia relacionada ao hipopótamo ou crocodilo.

*** Texto Massoretico. No século VI um sistema de pontuação foi inventado pelos escribas judeus massoretas para atender a necessidade de acentuação vocálica das palavras hebraicas que não possuem vogais. São conhecidos hoje como pontos diacríticos.



REFERENCIAS.

  1. Rodovalho, R. 1995. Por Trás das Bênçãos e Maldições. Editora Koinonia, Brasilia. Rodovalho, R. 2012. Bênçãos ou Maldições. Editora Sara Brasil. São Paulo.
  2. Belanger, M 2010. The Dictionary of Demons, pp125, apud Sacred Magic of Abramelin the Mage. Edited by Michelle Belanger, 1st ed. Llewellyn Publications, Minnesota.
  3. Bane, T. 1969. Encyclopedia of Demons in World Religions and Culture. McFarland & Company Inc. Publishers. Noth Carolina.
  4. Zohar. Ou Esplendor. Livro principal da Cabala atribuído ao rabino Shimon bar Yochai do século II publicado no século XIII pelo rabino Moises de Leon. Domínio Público.
  5. Livro dos Mortos. O Papiro de Ani (O LIVRO EGÍPCIO DO MORTO), 240 AC. Traduzido por E.A. Wallis Budge. Domínio público.