Resumo dos Principais Filósofos e seus Pensamentos
Prof. Rodnei Cecarelli, PhD
Introdução
A
filosofia da religião é a temática da abertura do homem para o mistério do
transcendente que o envolve, aceitando-o de maneira positiva e conjecturando
sobre sua existencia. Por conseguinte, contextua a relação do homem com o santo
ou numinosum, a ideia do sagrado no
horizonte da autocompreensão humana. A religião realiza-se na própria existência
humana. Tanto o apelo de Deus quanto a resposta do homem se verifica na própria
existência per se. Assim a existência
religiosa se constitui e se completa a partir do divino. Por isso, na filosofia
da religião, não se fala só do homem, mas também daquilo que é diferente dele,
que é o transcendente. No cristianismo, por exemplo, é a revelação e a
penetração do incondicionado no mundo condicionado (ZILLER 2010). Segundo
Hegel, a religião e a filosofia têm em comum a busca da verdade (HEGEL 1807). Sabemos
que a razão não tem um começo ou ponto inicial. A própria pergunta pela razão e
pela liberdade é condicionada historicamente. Podemos repetir a pergunta de
Ziller (2010): é realmente racional a confiança ilimitada na razão?
Racionalidade moderna e a fé: Descartes e Pascal
Partindo
da desconfiança universal, Descartes adota o procedimento conhecido por dúvida
metódica, ou seja, de não aceitar nada que não ofereça garantia absoluta de
verdade. O caminho cartesiano ou ceticismo metodológico proposto vai do
cogito a Deus até a verdade objetiva. Caberia indagar
se o homem pode ser reduzido à razão?
“Pode-se demonstrar
que há um Deus, apenas porque a necessidade de ser ou existir compreendida em a
noção que temos dele. Que não
sendo nós a causa é Deus, e que, por consequência, há um Deus”
(ZILLES 2010).
Pascal relativiza
a certeza puramente racional e matemática: “conhecemos
a verdade, não só pela razão, mas também pelo coração”. Pascal não isola o
homem do mundo, como fizera Descartes. Pergunta: o que o homem é perante o
infinito?
“Nada em relação ao
infinito: tudo em relação ao nada; um ponto intermediário entre o tudo e o
nada. Infinitamente incapaz de compreender os extremos, tanto o fim das coisas
como seu princípio permanecem ocultos num segredo impenetrável, e é-lhe igualmente
impossível o nada de onde saiu o infinito que o envolve”.
A
razão não pode decidir se existe Deus ou não, pois entre nós e Deus há
distância infinita, por isto apostamos cara ou coroa a favor da existência de
Deus. O Argumento da Aposta de Pascal. Para Pascal, é mais favorável apostar na
existência de Deus, visto que o crente, ao apostar em Sua existência, se
realmente Ele existir, ganhará tudo (a vida eterna), e se for o oposto, nada
perde, pois ao menos cumpriu uma vida ética. Pascal afirma: “Se somente se devesse fazer alguma coisa com
certeza, nada se deveria fazer pela religião, pois ela não oferece certeza”.
Para Pascal como para Descartes, o pensar é importante. Mas para Pascal, o
espírito humano é muito mais que pura razão.
A Lei Natural de Spinoza
As Escrituras contem a
palavra de Deus, mas não é a palavra de Deus.
“Jesus Cristo é a salvação
dos ignorantes” Baruch Spinoza
Sua
crítica à religião se dá através da crítica às Escrituras, com a sua famosa
obra, o Tratado Teológico-político (TTP).
O TTP tem como ponto de partida a questão da inspiração bíblica. Spinoza
não leva em conta a instituição religiosa, mas a Bíblia. Segundo ele, os
religiosos afirmam que ela foi inspirada por uma questão de política, visando à
manipulação. Eles manipulam as Escrituras a fim de dar o sentido que querem
para elas. Desenvolve uma profunda exegese bíblica para chegar a comprovar que
a Bíblia não é um livro inspirado, mas um livro como outro qualquer. A mensagem
da Escritura é a mesma que está inserida na própria lei da natureza.
A
Bíblia é um livro sem interpretação, que apenas serve para ajudar as pessoas a
serem felizes ou melhores. Para sair de toda a compreensão ambígua, Spinoza
desenvolve um Método de Exegese Bíblica, que é usado até hoje pelos exegetas, o
Método Histórico Critico (MHC). Spinoza quer provar, com isso tudo, que a religião não passa de uma política
das instituições religiosas, que querem alienar a todos os seus seguidores.
Jesus Cristo seria a “salvação dos
ignorantes”. Segundo Spinoza, a Bíblia deve ser interpretada à luz natural,
não como “inspiração divina” ou “imaginação humana”.
Na
busca pela Verdade contida na Bíblia, Spinoza conclui que os livros da Escritura
contêm a Palavra de Deus, mas que eles mesmos não são a Palavra de Deus. Postula
que a razão estabelece a existência da substância infinitamente infinita, isto
é, Deus, e a sua essência, um Deus imanente, e não transcendente, que, ao criar
todas as coisas, permanece nelas. Em tudo está contida a Lei Natural, e se esta
Lei provém de uma Lei Eterna, isto é, de Deus, logo Deus está em todas as
coisas. Tudo que existe é a partir da Lei Natural. Para o filósofo a ideia de
milagre seria inconcebível, pois seria o mesmo que dizer que Deus está
concertando algo que Ele criou com defeito.
A Racionalidade Moderna e a Religião: Kant e Hegel
O
ponto de partida do conhecimento humano, segundo Kant, é a razão que imprime
suas forças puras (categorias) nos objetos para assim constituí-los.
Segundo Kant o conhecimento é constituído por juízos. Só podemos conhecer os
fenômenos. Segundo a metafísica tradicional, a razão busca três conhecimentos
fundamentais: a) A alma (síntese
das vivências subjetivas); b) O universo (síntese das vivências objetivas);c)
Deus (síntese final e suprema).
Kant
constata que nenhum desses objetos pode ser conhecido pela razão pura. Hegel
não tenta demonstrar a existência objetiva de Deus. Antes indaga como o homem
chega a pensar em Deus. Deus deve ser visto como aquele que passa por uma
história e nela se revela. Este é o tema de sua obra filosófica “Deus não é espírito vazio, mas o Espírito.”
(HEGEL 1807, ZILLES 2010).
A
própria filosofia torna-se teoria da ciência. O processo do iluminismo conduziu
o homem ao uso de sua própria razão. O ideal da ciência moderna é o método
adequado, a clareza e a exatidão. A matematização, quantificação e a
formalização são insuficientes para abranger fenômenos qualitativos específicos
da existência humana, como arte, música, religião, o amor, a fé, etc.
Popper,
em Conhecimento Objetivo (1902),
assevera que há problemas genuinamente filosóficos que não se podem
esclarecer com meios da ciência empírica:
“Todas as teorias são hipóteses; todas podem
ser derrubadas”. “Somos buscadores da verdade, mas não somos
seus possuidores”
O
filosofo britânico Alfred Jules Ayer diz que todo o discurso inverificável
acerca de Deus transcende e carece de conteúdo lógico, de maneira que é absurdo
não só afirmar, mas também negar a existência de Deus (ZILLER 2010).
A crítica da religião e o ateísmo de Feuerbach
“A verdadeira relação entre pensamento e o
ser é apenas esta: o ser é o sujeito, o pensamento é o predicado. O pensamento
provém do ser, mas não o ser do pensamento”. O homem não é só
fundamento, mas também o objeto da religião, “a consciência de Deus é a consciência que o homem tem de si mesmo”.
Feuerbach quer uma filosofia que possa satisfazer todas as exigências humanas e
considerar o homem em sua realidade concreta material. Deus, religião e
imortalidade são destronados e é proclamada a república filosófica na qual o
homem é Deus para o homem. “O homem para
si é homem (no sentido habitual); o homem com o homem - a unidade do tu e do eu
– é Deus”. Quando Feuerbach afirma que “o homem é deus para o homem” em Princípios
da filosofia do futuro (1843), concebe o homem como ser social, em sua
convivência com outros homens: o homem com o homem, a unidade de eu e tu, é
deus.
O
cristianismo é a velha religião que deve morrer para nascer a nova religião do
Humanismo. Feuerbach destrona Deus e diviniza o homem. O Deus encarnado é
apenas o homem divinizado e nada mais: “o
Deus encarnado é apenas o fenômeno do homem endeusado” (Feuerbach 2007). Feuerbach transforma seu humanismo em
materialismo grosseiro. Diviniza a matéria da qual o homem é parte. Funda a
religião no sentido de dependência da natureza.
O ateísmo sociológico: Karl Marx
“A religião é o ópio do
povo” Marx
O
novo humanismo de Marx é ateísmo e comunismo: “O ateísmo é o humanismo pela superação da religião, e o comunismo é
humanismo pela superação da propriedade privada”, escreveu nos manuscritos econômico-filosóficos
de Paris.
Para
Marx o ateísmo é um produto evidente, tão evidente que dispensa qualquer
investigação mais séria de sua parte. Deus não passa de uma projeção do homem.
São as estruturas econômicas que segundo Marx, gera a falsa consciência que é a
religião. A religião é uma consciência errônea do mundo. Desta maneira a
religião age como calmante. “É o ópio do
povo”. A religião hipnotiza o homem com falsa superação da miséria e assim
destrói sua força de revolta. Marx conclui a religião sendo reflexa espiritual
da miséria real do homem numa sociedade opressora.
O ateísmo psicanalítico: Freud
Sigmund
Freud, o fundandor da moderna psicanálise, afirma: “Deus é uma ilusão infantil”. A neurose é a fuga do adulto ao mundo
infantil. Portanto, os conflitos que não foram resolvidos na infância celebram
sua ressurreição. Freud vê a religião como regressão do adulto ao mundo ideal
da criança. A origem da religião é, pois, o inconsciente, ou seja, o
irracional.
Para
Viktor Frankl (1905), o fundador da terceira escola vienense de psicoterapia, o
homem não é dominado apenas por um impulso inconsciente (Freud) ou por um
psíquico inconsciente (Jung), mas também por um inconsciente espiritual. Enquanto
a psicanálise percebe o homem como tal autônomo psíquico, a análise existencial
percebe o espiritual como o especificamente humano.
O ateísmo niilista: Nietzsche
“O
último cristão morreu na cruz” Nietzsche
Nietzsche
defende o ateísmo como sendo a posição própria da nova cultura. Nega a Deus
porque é inimigo da vida, pois Deus surge em virtude de uma tendência hostil à
vida. Diz que o conceito de Deus, inventado como antinomia contra a vida e a
religião é essencialmente um processo de aviltamento do homem.
A
vasta obra de Nietzsche apresenta caráter fragmentário, sem aforismos,
totalmente assistemático. A crítica religiosa de Nietzsche está vinculada
intimamente a sua concepção de vida e de religião. Considerava a vida o valor
supremo. A religião é destruidora da vida, uma categoria de negação teórica e
prática da vida. Na sua obra O Anticristo escreve: “O cristianismo defendeu tudo quanto é fraco,
baixo, pálido.” Para Nietzsche nada é tão doentio quanto como a piedade
cristã.
A
razão e toda a psíquica tem a finalidade a serviço da vida biológica. A partir
desta visão sustenta-se o ateísmo, sua visão de mundo e homem é consequência de
seu ateísmo. “Deus está morto”, com a
morte de deus morrem todos os demais valores que giravam em torno do conceito
do divino. Nesta perspectiva, a morte de Deus significa a liberdade do
homem. Só a morte de Deus possibilitará a emancipação do homem. O
filósofo alemão Berhard Welte mostrou que a chave do ateísmo nietzschiano e de
sua influência está no interior do próprio homem, que o possibilita. O homem
deseja evitar um Deus vivo. É uma decisão existencial do próprio homem.
Mesmo
depois de ter atacado o cristianismo por todos os lados, em 1881 escreveu a seu
amigo Peter Gast:
“Não importa o que eu tenha a dizer sobre o
cristianismo, não posso esquecer que lhe sou devedor das melhores experiências
da minha vida espiritual; e espero que, no fundo do meu coração, jamais
venha a ser ingrato para com ele”.
Conclusão
Vivemos
na luta de cosmovisões antagônicas. Negar toda a possibilidade de conhecimento
de Deus seria atitude tão dogmática e arrogante quanto à dos filósofos e
teólogos. Não se resolvem problemas evitando-os. Por isso não devemos deixar
de tomar determinada posição, enfrentando
o risco da crença ou da descrença. A própria indiferença é uma posição. A opção
transita por nossa conta, por conta da liberdade de pensamento e expressão humana
(ZILLER 2010).
Referencias
BORGES, R. http://www.professorrenato.com/index.php/religiao/31-filosofia-da-religiao-urbano-zilles-resumo, acessado em 17/02/18
FEUERBACH, L. A. Essência do Cristianismo. Editora Vozes. Rio de Janeiro. 2007.
GOMES, R.R.F. Introdução à Filosofia da Religião. Seminário
Arquidiocesano São José, Rio de Janeiro, 2014.
HEGEL, G.W.F. Fenomenologia do Espírito. Domínio
Publico, 1807.
POPPER, K.R. Conhecimento Objetivo. Domínio
Publico, 1902.
ZILLES. U. Filosofia da Religião. 8a Edição, Editora Paulus. São Paulo, 2010.

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